Blog de arquitetura e design da Libertà
Os sons e o ambiente
por Arq. Daniele Biessek
Dando sequência aos textos de neuroarquitetura referente aos sentidos, hoje vamos falar um pouco sobre a audição e como os sons podem ser utilizados para melhorar ou até mesmo prejudicar nossa relação com o ambiente.
Para iniciar, vamos entender o que é o som. O som é uma vibração que se propaga pelo ar transmitindo energia. Essas vibrações penetram no nosso ouvido, fazem a membrana do tímpano vibrar e esta vibração chega à cóclea, que por sua vez estimula as células sensoriais que convertem o som em sinais elétricos e são enviadas ao nervo auditivo. Os sinais elétricos viajam pelo cérebro sendo decodificados em informação ao longo do caminho. A região do cérebro que processa a informação sonora é o córtex auditivo.
Entendido o processo cerebral da decodificação do som, vamos ao que interessa: o que a audição e os sons têm a ver com arquitetura?
A audição é o sentido humano de maior alcance, pois é possível detectar estímulos sonoros a quilômetros de distância. Os estímulos sonoros estão diretamente ligados ao bem estar das pessoas, pois podem influenciar nas ondas cerebrais, na respiração, no ciclo circadiano e até mesmo nos batimentos cardíacos. Os sons podem influenciar na capacidade de concentração, no humor, nas emoções e por aí vai. Por outro lado, a poluição sonora (excesso de ruído ou em volumes altos) pode causar danos à saúde física e mental das pessoas.
Pesquisadores criaram o termo Sonic seasoning (tempero sônico) ao afirmar que o som tem a capacidade de afetar o sabor e o cheiro, tornando, por exemplo, o café mais doce ou o vinho mais ácido. Segundo o pesquisador Bruno Alejandro Mesz, os sons “podem melhorar diferentes componentes do sabor, ignorando os órgãos sensoriais do paladar ou do olfato e indo mais diretamente para o cérebro”.
Segundo o estudo, o gosto azedo está associado a música rápida, dissonante e aguda. Gostos amargos parecem estar ligados a tons mais graves, enquanto que a música que tem alta aspereza – perceptivelmente, uma impressão de ‘aspereza’ no som – pode tornar o café mais adstringente. Outro pesquisador, Charles Spence, fez um trabalho mostrando que é possível modificar a percepção de crocância nos chips alterando as frequências dos sons da mastigação enviados de volta pelos fones de ouvido. Sons de mastigação mais agudos fizeram com que os chips “parecessem mais crocantes”.
Parece loucura, não? Pois bem, esta é a neuroarquitetura, presente em todos os aspectos da nossa vida!